Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos

  • 13/05/2025
  • 0 Comentário(s)

Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica faleceu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos. O político aposentado que foi símbolo da esquerda na América Latina estava sob cuidados paliativos durante a fase terminal de um câncer de esôfago, além de já diagnosticado com uma doença autoimune. Ele desistiu de fazer tratamento em janeiro, quando o tumor fez metástase e se espalhou apesar de 32 sessões de radioterapia,

A informação da morte foi confirmada pelo presidente uruguaio, Yamandú Orsi. “É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu em nota.

Em uma de suas últimas mensagens antes do falecimento, Mujica, lúcido até o fim, previu num relato emocionado a respeito de seu estado de saúde que poderia partir “qualquer dia desses”. Gravado em sua casa em Rincón del Cerro, um sítio na zona rural de Montevidéu, o vídeo foi uma mensagem de gratidão por ter dedicado sua vida a uma causa, e sobre estar em paz com a trajetória que construiu.

“O ciclo da minha vida acabou”, reconheceu, “mas me reproduzo na voz das meninas e dos meninos que estão aqui, que continuarão a levantar as bandeiras pelas quais dediquei minha vida.”

Considerado um ícone esquerdista latino-americano, passou quase quinze anos preso durante a ditadura no Uruguai (1973-1985), sete dos quais isolado numa solitária, submetido a torturas, e longe dos livros que tanto ama (suportou a solidão, entre outros meios, fazendo amizade com um sapo). Antes de entrar para a guerrilha com o grupo Tupamaros no final da década de 1960, era floricultor, e por décadas forneceu belos espécimes para feiras e lojas locais. Depois, como ex-guerrilheiro, escreveu uma história de redenção com a redemocratização de seu país, que governou entre 2010 e 2015.

De fala mansa e pausada, Mujica se orgulhava de ostentar o título de o dirigente mais pobre do mundo, o que lhe daria autoridade para cobrar dos mais ricos que façam um pouco pelos mais pobres. Ele doava cerca de 90% do seu salário mensal, de US$ 12 mil, a instituições de caridade que beneficiam os mais vulneráveis e pequenos empresários.

Como presidente, nunca abandonou o estilo franciscano, vivendo num sítio e dirigindo um fusca azul do modelo 1982, avançou na legalização do aborto e na descriminalização da maconha (que ele afirmou jamais ter experimentado). Também lidou com tentativas de corrupção, as quais, segundo ele, foram devidamente rechaçadas. Aos poucos, ajudou a transformar o Uruguai numa das democracias mais saudáveis do mundo, regularmente elogiada pela força de suas instituições e pela civilidade de sua política.

Depois da Presidência, tornou-se senador, cargo que já havia ocupado de 2000 a 2005, e em outubro de 2020, decidiu se aposentar com um gesto que diz mais sobre ele do que qualquer palavra. Escolheu anunciar que abandonava a ribalta ao lado do também senador Julio María Sanguinetti, estrela da direita que governou o país de 1985 a 1990 e depois de 1995 a 2000, em quem deu um emocionado abraço (quebrando o protocolo da Covid-19, mas por lá a situação era mais tranquila).

Seu legado é maior que sua história digna de filme e do que seu compromisso com a austeridade. Ele se tornou uma das figuras mais influentes e importantes da América Latina, muito por conta de sua filosofia clara e objetiva sobre o caminho para uma sociedade melhor e uma vida mais feliz. Como disse numa entrevista ao New York Times no ano passado, só existe uma vida, e depois ela acaba. 


#Compartilhe

0 Comentários


Deixe seu comentário








Aplicativos


Locutor no Ar

Anunciantes